segunda-feira, 16 de abril de 2018

O MELHORAMENTO GENÉTICO DO AÇAI (Euterpe oleracea Mart.) NA AMAZÔNIA

Artigo científico de revisão literária elaborado por José Felipe Tavares de Almeida e Luciane Bezerra Lopes sob orientação do professor Dr. Sérgio Alves, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins - Campus Araguatins.

*É proibido a veiculação deste trabalho em qualquer meio de comunicação, apresentação em congressos, em fóruns e  publicações em  sites e revistas não autorizadas pelos autores.


Sérgio Alves de Sousa
José Felipe Tavares de Almeida
Luciane Bezerra Lopes


Resumo: O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma espécie frutífera e produtora de palmito, nativa da Amazônia e tem como centro de origem o Estado do Pará. Por sua importância econômica alguns métodos são adotados para o aumento produtivo como -se o programa de melhoramento genético do açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, que é recente e pouco conhecido, essa técnica visa melhorar o desempenho da cadeia produtiva do açaí, com ênfase para o aumento da renda das populações ribeirinhas do estuário amazônico. Os métodos de seleção empregados têm sido a seleção fenotípica ou massal e a seleção com teste de progênies. O germoplasma da palmeira do açaí vem sendo estudado como fornecedor de características desejáveis no melhoramento genético do açaizeiro. Para as espécies do gênero Euterpe, o melhoramento genético visa obter: cachos mais pesados, maior rendimento de frutos por cacho, maior teor de polpa e de antocianina e a produção centrada na entressafra. Nos açaizeiros, são raros os estudos sobre variabilidade e correlações entre caracteres em populações com potencial para serem utilizadas em programas de melhoramento para produção de fruto. E se tratando de germoplasma de plantas perenes, como é o caso do açaizeiro, a caracterização é escassa e envolve descritores botânicos, morfológicos e agronômicos e, mais recentemente, os moleculares. Por isso, existem vários órgão especializados em bancos de acessos de germoplasma do açaí, e a maior coleção de germoplasma dessa frutifera encontra-se instalada na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém - PA, estando, representando ao todo por 212 acessos de progênies. O melhoramento genético do açaí favorece o aumento produtivo dessa fruta.  Pois, obtém plantas com melhores desenvolvimentos e maiores   teores de   polpa,  além de   alto rendimento por cacho e facilidade na coleta e obtenção do fruto. Melhorando a renda de populações ribeirinhas e agricultores da região amazônica.

Palavras-chave: Germoplasma. Açaizeiro. Produção.



 

1 INTRODUÇÃO

O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma espécie frutífera e produtora de palmito, nativa da Amazônia e tem como centro de origem o Estado do Pará, que é o maior produtor e o principal consumidor, onde estão estabelecidas densas e diversificadas populações naturais (FARIAS NETO et al. 2008).

A espécie apresenta ampla distribuição, incluindo no Brasil, os Estados do Pará, Amapá, Maranhão e Amazonas (FARIAS NETO et al 2004) além de outros estados do norte brasileiro, mas com menos abrangência. Essa região do estuário amazônico apresenta uma diversidade de fruteiras nativas com potencial de exploração e industrialização. E o açaí destaca-se pela grande abundância, facilidade de manejo, importância social e mercado promissor. (MOCHIUTTI et. al. 2009).

Mochiutti et. al (2009) ainda discorre que o “vinho do açaí” (suco da polpa), constitui-se num dos principais alimentos das populações ribeirinhas e vem rapidamente ganhando espaço no mercado de bebidas energéticas do país”.

Em 2012, o Pará, o maior produtor nacional, produziu 110.937 toneladas de açaí (fruto), com alta de 1,57% em relação a 2011, ou seja, cerca de 55,70% da produção nacional. Dos 20 maiores municípios produtores de frutos de açaizeiros nativos do País, 12 são no Pará e 8 no Amazonas (CONAB, 2014).

Esse crescimento de mercado do açaizeiro está associado aos benefícios à saúde que a ciência vem atribuindo à ingestão desse alimento, que apresenta baixo nível de calorias, altas concentrações de vitaminas, fibras, sais minerais e elevado teor de antocianinas (ROGEZ, 2000 apud FARIAS NETO et. al 2008). Além da polpa e palmito, ele pode ser utilizado em outras inúmeras formas: como planta ornamental (paisagismo); na construção rústica (de casas e pontes); como remédio (vermífugo e anti-diarréico); na produção de celulose (papel Kraft); na confecção de biojóias (colares, pulseiras etc.); ração animal e adubo (VASCONCELOS, FARIAS NETO e FIOCK, 2010).

Mas, para o desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí é necessário tecnologias para o manejo de açaizais nativos, melhoria da qualidade dos frutos, aumento da produtividade regional, e cultivo de açaizeiros com técnicas adequadas de colheita e processamento da polpa. (MOCHIUTTI et al. 2009).

Dentre estas tecnologias podemos destacar o programa de melhoramento genético do açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, localizado na cidade Belém, capital do estado do Pará (FARIAS NETO et al, 2009). No caso das espécies do gênero Euterpe este programa de melhoramento envolve cachos mais pesados, maior rendimento de frutos por cacho, maior teor de polpa e de antocianina e a produção centrada na entressafra (MENEZES e OLIVEIRA, 2009), aumentando a produtividade e qualidade desses frutos produzidos nessa região.

Este trabalho visa discutir a principais características e processos do programa de melhoramento genético do açaí na Embrapa Amazônia Oriental e suas principais técnicas e meios utilizados para o melhoramento do açaizeiro, visto que o açaí é uma planta de enorme valor para a região norte do Brasil, por possuir um potencial econômico bastante expressivo para a renda da população ribeirinha da região amazônica.

Neste trabalho foi utilizado um delineamento descritivo exploratório, com consultas de bibliografias a respeito do tema proposto, e suas bases de exploração são apenas a principais características do programa de melhoramento genético do açaí amazônico, se restringindo a tal conteúdo.


2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Melhoramento do açaí da amazônia


O açaizeiro é um importante recurso genético da Amazônia, que, nos últimos anos, vem despertando interesse para o cultivo em escala comercial, nessa região, o açaizeiro tem aproveitamento integral. Mas é no fornecimento de dois produtos alimentares economicamente rentáveis que esta espécie se destaca, o suco e o palmito (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 207).

Estudos da cadeia da produtividade das famílias ribeirinhas do norte do Brasil indicaram que entre 60 a 90% da renda bruta familiar vem do extrativismo, pela exploração de açaizais, madeira e pesca. Dentre estas atividades, destacou-se a produção de fruto de açaí, que representou de 50 a 75% da renda bruta total. (MOCHIUTTI et al. 2009).

Tavares e Homma (2015) relatam que em 2012 foram exportados 6.061.194 kg de polpa de açaí, correspondendo a mais de US$ 17 milhões, em 2013 o mercado sofreu uma pequena retração em função das crises nos Estados Unidos e no continente europeu. Ainda assim foram exportados 4.559.021 kg de polpa correspondendo a mais de US$ 16,38 milhões. Em 2014 as exportações atingiram a cifra de US$ 22,523 milhões o que corresponde a 84% do total da pauta de exportação de sucos do Estado do Pará.

Esses dados demonstraram que a exploração do açaí é uma fonte de renda importante para produtores ribeirinhas do estatuário amazônico. Fazendo com que a área de plantio aumentasse com o passar dos anos, e que o açaí entrasse nos mercados nacional e internacional (MENEZES e OLIVEIRA, 2009).

Segundo Farias Neto et al (2004) a exploração de açaizais para produção de fruto é atrativa como opção de investimento por parte dos agricultores, o que reflete no estabelecimento de plantios de açaizeiros em terra firme, atualmente estimado em 3.500 hectares no Estado do Pará.

Mas essa expansão ocorreu com uso de sementes de origem genética desconhecida, resultando em plantios heterogêneos quanto à produtividade e qualidade dos frutos, haja vista que até pouco tempo, não existia campo de produção de sementes e ou mudas estabelecido de matrizes selecionadas de açaizeiro para frutos, segundo os padrões técnicos para produção de sementes certificadas (OLIVEIRA e FARIAS NETO, 2005).

Por isso, foram adotados métodos visando melhorar o desempenho da cadeia produtiva do açaí, com ênfase para o aumento da renda das populações ribeirinhas do estuário amazônico, como o programa de melhoramento genético do açaizeiro na Embrapa Amazônia Oriental, que é recente, e os métodos de seleção empregados têm sido a seleção fenotípica individual ou seleção massal e a seleção com teste de progênies (FARIAS NETO et al, 2009).

Este programa de melhoramento genético do açaí visando a produção de fruto teve início no final da década de 80 no século XX (OLIVEIRA, 2005) apud (TEIXEIRA, 2011). E no final de 2004, foi lançada a primeira população melhorada de açaí, a cultivar BRS Pará, obtida pelo método de seleção fenotípica ou massal, para as condições de terra firme. (MENEZES e OLIVEIRA, 2009).

Essa cultivar se caracteriza pelo bom perfilhamento, precocidade de produção, frutos de coloração violácea e bom rendimento de polpa (OLIVEIRA e FARIAS NETO, 2004). Apresenta uma precoce produção, com os primeiros cachos colhidos aos três anos de plantio e produtividade estimada de 10 ton/ha/ano, aos oito anos de idade; bom rendimento de polpa, entre 15% e 25%. Tem por diferencial estatura de planta baixa, que contribui na eficiência operacional no processo de colheita dos frutos (OLIVEIRA e FARIAS NETO, 2004).

Os objetivos do melhoramento genético devem ser definidos a partir de uma análise dos hábitos alimentares, culturais, das demandas do mercado. Do processamento e das tecnologias de transformação disponíveis para a espécie ser melhorada (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 223).

Por isso, Sousa, Oliveira e Farias Neto (2015) destacaram a importância do conhecimento da diversidade genética argumentando que “é fundamental para desenvolver programas de melhoramento direcionados para obtenção de variedades ou cultivares com características agronômicas desejáveis”.

Pois o açaí de diferentes ecossistemas amazônicos reúne características essenciais para a nutrição humana como fonte de energia, fibra alimentar, antocianinas, minerais, particularmente cálcio e potássio, e os ácidos graxos oleico e linoleico (YUYAMA et al. 2011).




2.3 BAG – Banco de Acesso de Germoplasmas de espécies do gênero Euterpe 
 O germoplasma da palmeira do açaí vem sendo estudado como fornecedor de características desejáveis no melhoramento genético do açaizeiro (ANDRADE e OLIVEIRA, 2013).

De acordo com FADDEN (2005) “para as espécies do gênero Euterpe, o melhoramento genético visa obter: cachos mais pesados, maior rendimento de frutos por cacho, maior teor de polpa e de antocianina e a produção centrada na entressafra. Ela ainda menciona vantagens de introduzir características de outras espécies do gênero Euterpe no açaizeiro, especialmente das espécies Euterpe precatória, conhecida como açaí-do-amazonas, e Euterpe edulis, o palmiteiro (MENEZES e OLIVEIRA, 2009).

O termo germoplasma representa a coleção de genótipos de uma espécie. O órgão oficial de recursos genéticos denomina - o como “todo material que constitui a base física da herança de uma espécie e que se transmite de uma geração para outra por meio de células reprodutivas” (IBPGR, 1991) apud (OLIVEIRA, 2005).

O Brasil é o maior detentor de germoplasma do gênero Euterpe, com registros de coleções em onze instituições de pesquisas, e a maior coleção de germoplasma dessa fruteira encontra-se na Embrapa Amazônia Oriental, instalado em duas localidades diferentes, em Belém – PA, com 124 acessos (Progênies de polinização livre) e Tomé Açu - PA, com 80 progênies, representando ao todo 212 acessos (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 219).

A coleção da Embrapa Amazônia Oriental ocupa uma área de dois hectares, em terra firme, com solo do tipo latossolo amarelo, de textura média. Os acessos foram plantados em linhas, no espaçamento de 5m x 3m, sem repetição e com um número variável de plantas (1 a 15) (COSTA, OLIVEIRA e MOURA, 2001).


O segundo maior BAG pertence à Embrapa Amapá e sua instalação é recente, ocorrida em 2001. Esse banco é constituído por 175 acessos, coletados em municípios da Ilha do Marajó e do Amapá, com características desejáveis para frutos, e encontra-se instalado em condições de várzea, em delineamento experimental (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 218).

A coleção de germoplasma, segundo Oliveira et al. (2005, p.13) pode ser formada de plantas, anteras, sementes, tecidos, células ou estruturas mais simples para manter disponível o máximo da variabilidade genética da espécie, sendo conservada na forma in situ ou ex situ”. Oliveira et al. (2005, p. 3) ainda reitera que na conservação in situ, o germoplasma é mantido no seu ambiente natural, enquanto na ex situ é feita fora dessas condições, frequentemente em instituições de pesquisas

E se tratando de germoplasma de plantas perenes, como é o caso do açaizeiro, a caracterização é escassa e envolve descritores botânicos, morfológicos e agronômicos e, mais recentemente, os moleculares, pois é um tema recente sem muitos estudos a respeito. (OLIVERA et al, 2009).

Para o armazenamento do germoplasma, Oliveira (2005 p. 12) reitera que “espécies do gênero Euterpe apresentam sementes recalcitrantes e, por este motivo, só permitem a conservação ex situ nas seguintes formas: em coleções vivas no campo, in vitro e via criopreservação, porém, a primeira forma é a única tecnologia disponível até o momento”.

A conservação ex situ possui um grande desafio: evitar alterações genéticas nos acessos e viabilizar a avaliação e caracterização do germoplasma conservado. Essas atividades são fundamentais para dar suporte aos programas de melhoramento desta palmeira (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 216).

No ano de 2004, foi lançada pela Embrapa Amazônia Oriental a primeira cultivar de açaizeiro para produção de frutos, BRS Pará. Esta cultivar foi desenvolvida com base em três ciclos de seleção massal. O primeiro ciclo foi desenvolvido durante as coletas de germoplasma que deram origem a citada coleção da Embrapa Amazônia Oriental, nas quais foram colhidos frutos de plantas que apresentavam baixa altura da primeira emissão de cacho, pequena distância de entrenós e destacada espessura de mesocarpo (TEIXEIRA, 2011 p. 17).



2.4 Caracterização de germoplasma do açaí


A caracterização é uma atividade prioritária na estratégia de abordagem e manejo de coleções e bancos de germoplasma, pois consiste em tomar dados para descrever, identificar e diferenciar os acessos (VALLS,2007) apud (OLIVEIRA et al , 2009).

Os atuais programas de melhoramentos tem indicado cultivares melhoradas para mais de uma característica, visto que a indicação com base em apenas um caráter não é interessante. Além do produto de maior interesse, existem vários outros fatores que tornam as cultivares potencialmente comerciais, pois agradam anto as exigências do consumidor quanto as do produtor (TEXEIRA, 2011, p. 27).

A caracterização morfológica deve permitir a discriminação relativamente fácil entre fenótipos de e fornecer as primeiras estimativas de variabilidade dentre da coleçãp. Fornece também informações úteis para o manejo de germoplasma em coleções, por meios de descritores, como, por exemplo, hábito de crescimento, período de floração, frutificação e ciclo. Além de fornecer uma medida de integridade genética dos acesso que estão sendo conservados (BURLE e OLIVEIRA, 2010 p. 9).

Em açaizeiro, são raros os estudos sobre variabilidade e correlações entre caracteres em populações com potencial para serem utilizadas em programas de melhoramento para produção de fruto. ( FARIAS NETO et al, 2005).

Nas coleções de germoplasma, a caracterização molecular tem sido realizada com vários objetivos, dentre eles têm-se a quantificação da diversidade e a determinação da estruturação genética. Essa interpretação da diversidade é feita por meio de uma medida de dissimilaridade, quase sempre visualizada por métodos de agrupamento. Enquanto os níveis de variação genética podem ser obtidos por vários procedimentos, como pela análise de variância molecular (OLIVEIRA et al. 2005).

Para a caracterização da diversidade, há vários marcadores moleculares disponíveis, sendo os mais usados a técnica PCR (Polymerase Chain Reaction), e os microssatélites ou SSR (Single Sequence Repeat), por possuírem um elevado conteúdo informativo, sua robustez analítica e transferibilidade, e por serem indicados para uso em espécies florestais pois são altamente heterozigotas (GRATTAPAGLIA, 2007) apud (OLIVEIRA et al. 2010).

O PCR (Reação de Polimerase em Cadeia), trata-se de um processo cíclico, no qual a enzima DNA polimerase faz cópias de um DNA, para o qual iniciadores (primers . oligonucleotídeos) específicos são fornecidos, sendo que, em cada ciclo, o número de cópias é duplicado, produzindo um aumento exponencial do mesmo. O processo envolve as fases de desnaturação das fitas de DNA; anelamento dos oligonucleotídeos; extensão e polimerização pela enzima DNA polimerase (GÓES,1999).

Todos os acessos estabelecidos em Belém foram caracterizados morfologicamente, quando atingiram dez anos de plantio; sendo constatadas variações expressivas para tipo de caule (87 % multicaule e 13% monocaule), número de estipe por planta ( 1 a 25), altura do estipe (4,21 a 12,10 m),comprimento da bainha foliar (0,76 m a 1.36 m), comprimento do internó (7,5 a 93,0 cm), circunferência do estipe (12 a 50 cm), coloração das flores e duração das fases de floração masculina (8 a 26 dias) e feminina (3 a 9 dias) (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 221).




2.5 Métodos utilizadas para o melhoramento do açaí

Para o planejamento de um programa de melhoramento é necessário integrar várias informações (biologia da espécie, sistema reprodutivo, citogenética, propagação, genética quantitativa, dentre outras). Os efeitos genéticos, variâncias e correlações, estimativas de parâmetros genéticos do caráter, tamanho de parcelas, número de indivíduos e progênies a serem selecionados e avaliadas e demais informações experimentais são primordiais na definição das estratégias de melhoramento a serem adotadas para atingir de forma eficiente os objetivos propostos (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 224).

Os métodos de seleção empregados no programa de melhoramento genético do açaizeiro na Embrapa Amazônia Oriental têm sido a seleção fenotípica ou massal e a seleção com teste de progênies (FARIAS NETO et al, 2004).


2.5.1 Seleção fenotípica ou massal


A seleção fenotípica é um processo simples e consiste na escolha dos melhores indivíduos com bases nos caracteres de produção de frutos, perfilhamento, precocidade de produção e estado fitossanitário das plantas. (FARIAS NETO et al, 2006). Ela irá se basear nas características das plantas, qual a que se desenvolve melhor, qual a produtividade de fruto, qual a mais resistente as pragas dentre outras.

A seleção fenotípica é o método mais antigo de melhoramento de plantas e vem sendo utilizada por agricultores a milhares de anos. Isto ocorria quando os agricultores escolhiam as melhores plantas para darem origem à geração seguinte (BESPALHOK, GUERRA e OLIVEIRA, 2012).

Na coleção de germoplasma da Embrapa Amazônia Oriental tem sido registradas variações fenotípicas no que concede aos seguintes caracteres: tipo de caule, número de perfilhos por touceira, comprimento da bainha foliar, altura do estipe, duração de fases de floração, número de cachos por planta, peso de frutos por cacho, peso do frutos, cor do fruto quando maduro 9 roxo e verde), formato do frutos, se é arredondado ou obovado e o números de frutos no cacho (OLIVEIRA, CARVALHO e NASCIMENTO, 2007 ).

Um dos principais problemas da seleção fenotípica massal é que ela é baseada somente no fenótipo. Por isso, este tipo de seleção é muito influenciado pelo ambiente. Usada principalmente na obtenção de novas variedades em espécies vegetais que ainda não foram muito trabalhadas geneticamente ou para caracteres de alta herdabilidade (BESPALHOK, GUERRA e OLIVEIRA, 2012).

Para Oliveira, Mochiutti e Farias Neto, (2009 p. 224) esse tipo de seleção é baseado nas potencialidades do progenitor feminino, não há controle de polinização, dessa forma, o acasalamento é ao acaso, com seleção. A existência de grande variabilidade entre os açaizeiros dessa coleção, para as principais características de produção deve garantir bons ganhos genéticos e, portanto, espera - se que seus descendentes sejam superiores à média da próxima geração.


2.5.2 Teste de progênies de polinização livre

Progênies de acordo com Farias Neto et al. (2005) “são entidades genéticas, por meio das quais é possível estimar a variabilidade da população, bem como explicar a natureza da variação fenotípica, os caracteres úteis ao melhoramento são avaliados nas progênies, as quais são testadas sob delineamentos experimentais”.

A seleção com base em testes de progênies de polinização livre é sempre mais eficiente e têm sido os mais empregados no melhoramento por cumprirem tanto os objetivos de seleção e melhoria genética quanto os de estudo dos parâmetros genéticos (NETO et al 2009). Com base nesse teste pode –se verificar o valor genético do genitor, permitir a estimação de parâmetros genéticos além de predizer os ganhos genéticos alcançados (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 227)

Farias Neto et al (2008) descreve que no teste de seleção progênies do açaí se utiliza os caracteres: altura do primeiro cacho (APC), peso total do cacho (PTC), peso total de fruto (PTF), número de cacho (NC), peso médio do cacho (PMC), comprimento médio da ráquis (CMR), número médio de ráquilas (NMR), número de perfilhos (NP) e peso médio de cem frutos(PM100).

Os testes de progênies atendem várias finalidades importantes para conservação das espécies, como as descritas a seguir: Conservar a variabilidade genética de uma população natural, principalmente as populações que apresentam mais riscos de serem extintas; viabilizar a caracterização genética da espécie, por apresentar delineamentos experimentais adequados; e formar pomares de sementes por mudas em diversos sítios, viabilizando a formação de cultivares locais, consequentemente aumentando a taxa de sobrevivência das espécies” (CANUTO et. al, 2015).

Canuto et. al (2015) ainda ressalta que esses testes constituem-se em um plantio sistematizado, onde cada árvore mantém sua referência de origem da população e possui repetições suficientes para se estimar os parâmetros genéticos, como os coeficientes de variação genético, as herdabilidades, a acurácia e ganhos de seleção, assim sendo esse material genético é conservado e melhorado.

Bespalhok, Guerra e Oliveira (2007), explica que dentro de uma população de polinização livre selecionam-se 50 a 200 plantas. A semente de cada planta é dividida em duas amostras identificadas. Uma amostra é utilizada para semeadura das linhas de avaliação de progênies (uma linha para cada planta selecionada) e a outra é mantida guardada (essa semente é chamada de semente remanescente).

Com o resultado da avaliação das linhas de progênies, mistura-se a semente remanescente que originaram as melhores linhas de progênies para se formar a população melhorada. A principal limitação do método é a falta de repetição das linhas de progênies (BESPALHOK, GUERRA e OLIVEIRA, 2007).

Além dos teste de seleção fenotípica ou massal e teste de progênie de polinização, ainda existem dois métodos menos adotados, como método de seleção recorrente e o método dos híbridos interespecíficos. O método de seleção recorrente é um processo cíclico que envolve a obtenção e a seleção de indivíduos ou famílias e a recombinação dos melhores (OLIVEIRA, MOCHIUTTI e FARIAS NETO, 2009 p. 229).

O método de híbridos interespecíficos é uma estratégia adotada para complementar características desejáveis de produtividade em várias espécies. No caso das espécies do gênero Euterpe isto envolve cachos mais pesados, maior rendimento de frutos por cacho, maior teor de polpa e de antocianina e a produção centrada na entressafra (MENEZES e OLIVEIRA, 2009). Estes dois são métodos poucos utilizados no programa de melhoramento da Embrapa Amazônia Oriental.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A demanda regional e nacional por açaí revelou a importância de um programa de melhoramento genético para essa planta. O programa de melhoramento do açaí é pesquisado pela Embrapa Amazônia Oriental, e ele é muito importante para a região norte brasileira, porque é a região com maior produção dessa frutífera e também a maior consumidora.

O melhoramento genético do açaí da Embrapa Amazônia Oriental contribui para o aumento da produtividade dessa fruta e para o aumento da renda da população que coleta e extrai sua polpa e palmito. Pois, com este programa se obtém plantas com melhores desenvolvimentos, e frutos com maiores teores de polpa, além de alto rendimento por cacho e facilidade na coleta e obtenção do fruto.

Apesar de ser um programa recente, o melhoramento genético do açaí ainda favoreceu a produção em terra firme, pois antes de se produzir em larga escala, só era possível a coleta em florestas nativas, com regiões de várzeas alagadiças. Portanto, é fundamental para obtenção de variedades ou cultivares com características agronômicas desejáveis. Demonstrando assim, sua importância para a região norte, para os agricultores e para a população ribeirinhas da Amazônia.



4. REFERÊNCIAS



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